
Toda vez que um cultuado diretor estrangeiro pisa pela primeira vez em solo americano, cresce o medo de que Hollywood pode seu estilo e sua assinatura artística a fim de pasteurizar a obra e torná-la mais palatável ao público estadunidense médio. Quando o sul-coreano Chan-Wook Park, diretor da fantástica Trilogia da Vingança, anunciou seu primeiro projeto em Hollywood logo surgiu a desconfiança. Ainda bem que as expectativas nem sempre se concretizam.
India (Mia Wasikowska) está prestes a atingir a esperada maioridade quando seu pai é morto em um misterioso acidente. A perda de seu confidente é confrontada com a chegada de um tio, até então desconhecido, que entra e causa mudanças significativas na vida dela e de sua mãe. O roteiro escrito por Wentworth Miller (o Capitão Frio de The Flash), é bem simples, mas faz alguns rodeios para revelar sua real intenção, maquiando com um suspense muito bem escrito a construção de um interessantíssimo filme sobre amadurecimento.
Com uma riqueza de detalhes visuais e sonoros a trama aborda uma possível hereditariedade da psicopatia, onde a mão de Chan-Wook é sentida, com uma câmera escorregadia e um cuidado extremo com cada tomada. Tecnicamente o filme é excepcional, com uma montagem fluída e bem realizada, uma fotografia belíssima e um figurino que ajuda na construção da estranheza do longa.
E por falar em estranheza, o elenco também colabora para essa sensação, apesar de não contar com nenhum desempenho espetacular, demonstra precisão na hora do casting. Nicole Kidman, Matthew Goode e Mia Wasikowska combinam perfeitamente com seus personagens, e isso deixa uma impressão fortíssima e muito positiva.
Enfim, “Segredos de Sangue” é uma obra excepcional que mostra que o talento de Chan-Wook Park não respeita fronteiras. Uma obra cheia de significados, com uma erotização quase mórbida que fala da violência inerente às pessoas, com uma narrativa precisa, que mistura fetiche e suspense e se encerra de maneira estranhamente satisfatória.